segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O mendigo

É corriqueiro, na saída de meu trabalho, me dirigindo para casa, me deparar com um mendigo, em especial. Ele sempre me pede um trocado, que nunca dou por causa de minhas convicções – não sei se certa ou errada –, vezes me pede um cigarro, onde normalmente cedo o que tem no maço. Este mendigo é um senhor negro que aparenta uns sessenta e poucos anos, com um sorriso vazio, um cabelo meio Don King, sempre educado e sorridente. Uma felicidade que me intriga, pois não sei como alguém naquela condição pode manter um sorriso no rosto. Por seu semblante, no início achava que ele era meio louco, pois, apenas estando completamente fora da realidade se poderia manter aquele sorriso.

Hoje sai mais cedo do trabalho e não fiz o percurso normal, parei no ponto de ônibus que tem próximo ao meu trabalho e estava aguardando, quando vi o senhor mendigo pedindo esmola a todos que esperavam o transporte, fiquei reparando que todos negavam e depois de alguns poucos minutos chegou até mim. Provavelmente ele não faz a menor idéia de que já cruzou comigo algumas vezes este ano, devem ser tantas caras que ele vê – em uma das avenidas mais movimentadas do Centro do Rio de Janeiro – que devemos parecer todos iguais. Eu, particularmente acho todos iguais, nos vestimos basicamente iguais, “corremos” basicamente iguais, nos importamos basicamente iguais, vivemos basicamente iguais. Cada um por si e espero que tenha alguém por todos.

Então o senhor mendigo chegou à mim e me pediu um trocado, pra variar, com o intrigante ar de sorriso no rosto – Não consigo entender, ninguém tinha lhe dado 1 centavo – e eu para variar disse que não tinha. Ele então alongou um pouco o sorriso e eu continuei, em um tom, meio que irritado, forçado, apenas para justificar, disse que estava brabo, pois estava apenas com o dinheiro da passagem. O que era mentira! Ele então disse.

Fica assim não filho, pelo menos tá com saúde, está com emprego. Certo ?

Eu concordei com a cabeça e ele continuou sua saga.

Uns 2 metros a minha frente tinham três garotas uniformizadas de colegial. Quando ele chegou perto, elas se assustaram, uma escondeu a bolsa, outra virou as costa, ficando de frente para mim e começou a rir. Ele percebendo o incomodo das garotas, se afastou um pouco e começou a falar com elas. Uma olhava e ouvia meio desconfiada, enquanto uma ria e a outra ignorava. Apesar das reações diferentes, percebia-se que as três estavam meio apavoradas. Eu então fiquei olhando-as sério, na intenção de passar alguma confiança para as garotas, como quem querendo dizer. Eu estou vendo o que está acontecendo e me intrometerei se vocês correrem perigo. Apesar d'eu não acreditar que corriam. Outros provavelmente faziam a mesma coisa, mas mesmo assim as garotas aparentavam temerosas. Não consegui ouvir direito o que ele dizia, apenas que era para elas continuarem estudando, que este era o caminho correto. O senhor saiu, então, sem que elas tivessem dito uma palavra e ele continuou seu trajeto. Até onde pude ver, sem ganhar nenhum centavo nem a menor atenção. E o que me deixa cada vez mais impressionado. Até onde pude ver com o mesmo esboço de sorriso no rosto. E pior, não parece ser falso.

Vim do interior do estado do Rio, para cursar a universidade. No início não conseguia entender como as pessoas ignoravam as crianças pedintes nas ruas do Rio, era como se estas não existissem. Com o passar do tempo, percebi que se parasse para dar atenção a cada pessoa que te pede algo, que te conta uma história triste etc. Não conseguiria sair do lugar. Se fosse dar esmola então !!!! Precisaria ganhar pelo menos dez vezes mais apenas para isso. E acabei igual as pessoas que tanto me impressionavam no começo. Porém, estou acostumado as pessoas pedindo algo, de uma forma bem “pedinte”. Como é isso ? Elas chegam até você e soltam um brevíssimo sussurro, apenas um vento entre os lábios, pois sabe que você sabe o que ela quer. E a resposta a esse ruído é simples, por mais rápido que ele seja, você nem deixa terminar, quando deixa começar. Ou já balança a cabeça negativamente ou já começa a catar a esmola. Nas duas situações, o pedinte sai tão rápido quanto chegou. Tem o caso dos intimidadores, isso geralmente ocorre com a mulher. O pedinte chega com uma fisionomia ameaçadora perto da mulher quase que obrigando-a a dá-lhe a esmola. Normalmente eles olham bem fixo nos olhos. As vezes acontece com homens também. Quando acontece comigo, devolvo o olhar fixo com um semblante bastante sério e ameaçador e digo bem firme. NÂO.

Porém esse senhor pedindo esmola está me deixando descompassado. Estou realmente afim de ajudá-lo porém não sei como. Dar a esmola, não vai ajudá-lo em nada, ou melhor, vai dar uma ajudinha, mas não vai mudar sua situação. Vai servir mais para eu poder chegar em casa de dormir despreocupado me sentindo a pessoa mais generosa do mundo.

Procurei na internet, albergues, ONG's, algum lugar para onde pudesse encaminhar esse senhor, mas não achei nada satisfatório.

Para dizer a verdade, não sei nem porque estou escrevendo isso. Talvez seja porque alguém possa ler e ter uma sugestão, apesar de saber que ninguém lerá isso. Não sei nem o que estou fazendo, nem o que fazer.

Enquanto escrevia esse post tive a idéia de tentar descobrir a história desse senhor, não vai mudar sua vida, mas talvez não ser ignorado por pelo menos uma pessoa possa, sei lá ... . Quem sabe eu não consiga descobrir porque ele parece estar feliz ao invés de estar querendo se matar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

é porque é

(música, genero samba)

Tire o cotovelo da mesa
Não como com a mão
Se for Escargot use a mão
para limpar o molho no prato com o pão
colher na mão direita
garfo na esquerda
guardanapo ao colo
mostrou a mulher na tv

Não pergunte o motivo
Pois isso não é importante
Faça o que eu digo menino
Seja uma dama menina

Para cabelo duro
Não tem segredo não
Se for homem raspe se mulher alise
Não use biquíni gorducha
Relógio ao braço esquerdo
Rosa é para elas
Pipas para eles

Não pergunte o motivo
Pois isso não importa
Seja como todos menino
Faça como elas menina

Macarrão com farofa
Dispense essa joça
Não importa se gosta
Dispense essa joça
Não escute funk, amigo
Coisa de gente grossa
Você tem que escutar
Uma bossa nova

Não pergunte o motivo
Pois isso não importa
Case-se com ela menino
Case-se com ele menina

Não pergunte o motivo
Pois isso não importa
Seja sofisticado menino
Não mostre que vem da roça