sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sei que é triste a dor do parto, mas tenho que partir

Enfim, chegou o dia. Ou melhor, se foi o dia.
Sempre soube que esse dia iria chegar, mas por mais que tenha me preparado, não é fácil.

Até que enfim todos se foram, pelo menos quase todos, mas o suficiente para que possa, enfim, deixar a correnteza seguir seu fluxo, sem me sentir constrangido, sem virar alvo das atenções ou inquisições. É bom deixar que a água, após um eterno dia represada, possa segir seu fluxo natural, seguir seu destino. Partir dos olhos para o mundo.

E a dor! É impressionante como a dor pode tomar tamanha proporção, mesmo que nenhum arranhão seja perceptível. Porém, pela primeira vez entendo o masoquismo humano, a necessidade da dor, que nos faz catucar a ferida cada vez que a detestável dor, ou seria amável dor, demonstra a possibilidade de se despedir. Disse que entendo? Não, não entendo! Mas, pela primeira vez, faço o "inintendível", como todos que sempre critiquei. Catuco a dor, trago-a de volta com a autoridade de um feitor.

E o tempo! Esse menino que não cansa de brincar com seus carrinhos. Ou uma menina com suas bonecas ou vice versa, tanto faz. Incansável de suas brincadeiras, pregou mais uma peça. Nunca um dia durou tanto. Nessas 12h, posso jurar que seria possível ter estudado todos os enigmas do universo. Ter aprendido todos os idiomas já existentes no planeta. Em 12h percebi o quanto é viver para sempre. O mesmo tempo que fez dias felizes passarem tão rápido que mal deu tempo de tirar a camisa e sentir o raio do sol. Que fez dias durarem um piscar de olhos.

Como a loucura toma conta. Desejo tanto que ela leia e saiba que escrevi para ela, que apesar de tudo, realmente estou destruído. Mas não quero que ela saiba que meus pedaços estão espalhados pelo cosmo. Quero que veja firmeza, certeza de tudo que está acontecendo. Mas queria que ela lesse e visse o quanto a quero e que corresse a meu encontro e que fizesse-mos o sol e a lua pararem lado a lado para nos invejar. Porém, não quero que ela acredite que isso possa ser possível, por que não é. Se fosse, essas frases seriam muito diferentes, provavelmente, nem existiriam. Ninguém sabe da existência dessas frases, nem ela. Então, se ouvir essas palavras, corra e leve-as a ela e ganhará um inimigo eterno.

Ser ou não ser, eis a questão. O que mais nobre a vida, levar anos e anos numa medíocre latência, ou sofre com a incerteza e o esmagar de seu coração em busca de pelo menos mais um dia de intenso viver.

Escolhi a segunda opção. Por isso parti.